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'Livre e realizada': bisneta de Cora Coralina é dona de headshop em SP
'Livre e realizada': bisneta de Cora Coralina é dona de headshop em SP
Mariana Tahan participou da Expo Head Grow, maior encontro nacional de tabacarias e headshops, as lojas dedicadas a vender itens de redução de danos para quem fuma maconha
Imagem: Fernando Moraes/UOL
Danila Moura Colaboração para o TAB, de Itu (SP) 10/06/2022 04h01
Acostumada a receber adeptos da pescaria esportiva, a Fazenda Maeda trabalhou com uma onda diferente no último sábado (4). Nas mãos dos frequentadores, os anzóis deram espaço para sedas, piteiras, lanchinhos e baseados infláveis de plástico. O espaço bucólico em Itu (SP), com direito a chalés, jardim japonês e teleférico, foi cenário da Expo Head Grow, maior encontro nacional de tabacarias e headshops, as lojas dedicadas a vender itens de redução de danos para consumo adulto da maconha e de outras plantas, como kumbaya e rapé.
Os 13 graus de temperatura incentivaram a formação de rodinhas para aquecer os entusiastas da erva, que acompanharam atentamente as palestras de assuntos como proibicionismo, guerra às drogas e mercado canábico. Bandas entoando versos de paz, amor e união fisgaram os ouvidos da plateia, que passou 12 horas sem testemunhar uma briga. Aliás, se existiu alguma foi por um lugar nas disputadas filas do restaurante, que vendia laricas variadas, desde barco de sushi a coxinhas. Apesar da semelhança com feiras canábicas internacionais de países legalizados, quem imagina encontrar um dispensário com maconha está viajando. Apenas expositores de produtos e serviços lícitos são permitidos no evento, que tem revista rigorosa feita por seguranças na entrada. O destaque são as novidades do setor, como painéis de luzes e sistema de irrigação para cultivo de última geração, testes colorimétricos para verificar a quantidade de canabinoides em óleo medicinal e outros itens, cosméticos estimulantes do sistema endocanabinoide, chocolatinhos "reborn", cujo visual confunde com buds de verdade (flores de cannabis), cervejas artesanais e até gim tônica infusionada com terpenos.
Um stand decorado com cartazes e embalagens de produtos com desenhos psicodélicos indianos chama atenção. Foi ali onde o TAB encontrou a empresária e ativista Mariana Tahan James Braz, 42, sócia da Namastey Shop. Ser bem-sucedida e atuar sem medo em áreas dominadas por homens é como se fizesse parte do DNA de Mariana. Ela é bisneta de Cora Coralina (1889-1985), escritora de versos em prol da liberdade feminina. As últimas lembranças de Mariana são da bisa, bem velhinha, fazendo doces na sua casa em São Paulo, quando a menina tinha cinco anos. As narrativas de Cora fascinavam tanto a família a ponto de a mãe de Mariana, a jornalista Ana Maria Tahan, só descobrir na casa dos 20 anos que os personagens de "Os Meninos Verdes" são uma fábula — no livro, "Vovó Cora" conta a história de criaturinhas estranhas e o pano de fundo é aprender a lidar com o diferente. Quando Ana descobriu que Mariana fumava maconha na adolescência, "quis me internar numa clínica de reabilitação", conta a empresária, aos risos. A ameaça nunca foi adiante. Cora, imagina Mariana, "ficaria brava, como a minha mãe". "Porém, com o tempo, aceitaria porque ela sempre defendeu que nós sejamos livres e realizadas."